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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Revolta, homenagem e coragem.

Mais um ano para recordar, mais um ano em grande.
Assistimos à nossa ruína em paz e sem perceber muito bem porquê.
Assentados nos nossos sofás ou à mesa, em quanto comemos, ouvimos o pivô da estação de informação habitual, a relatar-nos mais um incêndio.
Deparamos com as imagens choque de um filme na qual não sabemos o final, vemos entrevistas na hora a bombeiros que coordenam as operações, aos proprietários dos terrenos, às pessoas que por um triz não ficaram sem uma casa e imagens sem palavras daqueles que tudo perderam.
Em casa e sem nada poder fazer, assisto a isto tudo com um sentimento de revolta e vontade de pegar nos colarinhos de “alguém” e perguntar porque fizeste isto?
É a única coisa que podemos fazer, não podemos fazer mais nada, senão, assistir ao nosso fim e ao fim de uma terra verde que os nossos antepassados nos deixarão.
Passaram tantos sacrifícios na limpeza das mesmas, recolhiam a madeira que as árvores lhes davam juntamente com a caruma para a subsistência no seu dia-a-dia.
Percorriam quilómetros para lá e quilómetros para cá, com tanto sacrifício, muitas das vezes com a lenha à cabeça.
Noutro sofá ao lado, temos uma pessoa que ficou sem nada noutro incêndio, noutro ainda ao lado temos a mãe de um bombeiro que reconhece o seu filho a arriscar a vida por entre aquelas imagens indirecto e cujo coração quase pára.
No outro sofá, um pouquito mais distante, estão os pais de mão dada de um(a) bombeiro(a) que ficou sem o seu filho no último incêndio, as suas lágrimas silenciosas são gritos de revolta, e a dura realidade de nunca mais o poder ver, é como uma espada que percorre o corpo de um lado ao outro.
Filho esse, exemplar, amigo deles, e com uma agravante é casado tem um filho menor e sua esposa carrega no ventre outro prestes a nascer.
Tudo isto num simples incêndio elaborado por alguém que queria divertimento ou porque a mando de outros levou-o a cabo.
Por fim noutro sofá temos a classe dos que podem mudar isto e não querem.

Simplesmente porque não querem.

Pedro Daniel Costa


Direcção - Cárina,Alexandrino,Ferraz,Lima,Pedro,Cândido,Lara